O que é tablet weaving

Salve medieveiros e reenactors !

Parem um minuto e peguem as cestinhas de artesanato porque vamos falar de Tablet Weaving.

Que diabos é isso, afinal?

Um dos assuntos que mais falamos no nosso instagram ultimamente é o tal do Tablet Weaving.

Isso porque eu e o André escrevemos o primeiro livro do Brasil que aborda técnicas de tecelagem medieval e ensina vocês como fazer. Se você estiver vendo esse vídeo do futuro, procure mais sobre esse assunto nas nossas redes porque a gente vive oferecendo oficinas.

Mas vamos lá… vamos falar do que eu mais gosto: tecelagem!

O tablet weaving, ou card weaving, é uma técnica de tecelagem histórica milenar. E como o nome mesmo já diz, essa trama é feita a partir de cards.

Primeiramente vamos quebrar aqui uma ideia. A gente fala muito de medieval porque é a nossa praia, mas o tablet weaving não é uma técnica medieval. Os primeiros achados arqueológicos de ferramentas dessa técnica datam o período neolítico.

SIM ! Estamos falando de milhares de anos de história ! Pra ser mais precisa, estamos falando do século 3 antes de Cristo.

Mas vamos avançar alguns séculos pra focar no que nos interessa: a Idade Média.

O tablet weaving era usado na Era Medieval basicamente como faixas para a cintura, alças de bolsas e decoração nas roupas. Com a possibilidade de misturar fios de cores diferentes, e alternar coordenadas na trama, podemos tecer criando padrões ou desenhos ao longo da faixa.

A ideia dos cards é  separar um fio do outro e alterar suas posições para construir esses desenhos. É coisa de gente de humanas, mas também é matemática. (confusa)

Os materiais usados e cores variam de região para região. O período que eu reconstruo, a Escandinava da Era Viking, tem muitos achados de ferramentas e pedaços de fios que sobreviveram ao tempo. E podemos encontrar tablet weavings feitos em lã de carneiro, seda e fios de linho.

O maior achado de tecelagem que temos é o famoso barco funerário de Oseberg. Datado do século IX na Noruega. Encontrado em 1903 em Tonsberg (100km de Oslo), 2 mulheres e animais e centenas de artigos de tecelagem: ferramentas, cards, agulhas, teares imensos. Se você tem planos de conhecer a Noruega um dia, não deixe de visitar o Museu do Barco para ver essa grandiosidade.

O que a gente faz hoje como reenactors é estudar esses achados e tentar reproduzi-los exatamente com os materiais, cores  e desenhos que usavam nesse período.

As cores eram obtidas a partir do tingimento natural com plantas, cascas de árvores, metais e até mesmo insetos. Para fixar essa cor no material, era usada urina. Hum… que delícia… (careta) Quem já assistiu Outlander já se deparou com uma cena muito agradável desse fato histórico.

Você usa xixi pra fixar a cor nas suas lãs, Luana? Não… eu uso vinagre porque tmb é histórico.

Quando eu comecei a estudar essa técnica uns anos atrás eu imaginava que era algo totalmente distante da nossa realidade no Brasil. Apesar de já conhecer diferentes tecelagens indígenas, eu nunca tinha visto nada por aqui feito com cards.

Ao viajar pela América Latina eu encontrei indígenas de diferentes regiões e etnias na Bolívia, no Chile e no Peru e fiquei surpresa ao conhecer vilarejos inteiros que vivem de tecelagem natural e pasmem ! reproduzem o mesmo padrão e técnica com cards dos escandinavos da era viking !

Aprendi bastante com as cholas e com as visitas em vilas quéchua na região de Cusco no Peru.

Eu estava o tempo todo do lado de uma história viva que eu buscava aprender através de artigos e achados arqueológicos de outro continente com mais de 10 séculos de idade. Que irônico não?

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